30 anos atrás Madonna lançava o álbum Erotica. É um bom gancho pra relembrar sua influência na cultura pop em tempos de wikipedia, google e apps de streaming. É fácil hoje chamar Lady Gaga ou Beyoncé de transgressoras e esquecer que a liberdade artística da qual elas desfrutam hoje começou a ser plantadas décadas antes e envolve a coragem e a resiliência de mulheres como Madonna, que claramente contribuíram para mudar e quebrar regras de forma que as gerações futuras pudessem ter mais fluidez e liberdade.
O álbum Erotica e o livro Sex confirmaram Madonna como um ícone da cultura pop. Ambos a retratam como uma mulher poderosa, corajosa, a frente do seu tempo e — o que mais incomodou à época — dona de sua própria sexualidade.
O livro Sex foi um projeto ousado que ela bancou, trabalhando junto com dois grandes nomes da construção de imagem de moda: o fotógrafo Steven Meisel e o diretor de arte Fabien Baron. Ele ficou três semanas seguidas em primeiro lugar na lista de best-sellers do New York Times e vendeu mais de 1,5 milhão de cópias, pouco para um nome como Madonna, que vendeu 25 milhões de cópias no álbum True Blue, mas muito se levarmos em conta que o livro foi censurado em muitos lugares.
Dois anos antes, a música Justify My Love, escrita por Madonna e Lenny Kravitz, introduziu a fluidez de gênero e o erótico ao pop mainstream, como um primeiro aviso ao que viria em seguida com Erotica e Sex. Dirigido por Jean-Baptiste Mondino, o clipe foi banido por várias redes de TV e até mesmo pela MTV pelo teor sexual, andrógino e fetichista.
Ao mesmo tempo em que celebra a cultura clubber e a euforia das pistas de dança ao melhor estilo “one nation under a groove”, a cantora também trata de temas tabu (para a época), como sexo, fluidez de gênero, religião, dinâmicas de poder e a epidemia de HIV. Ela se posicionava politicamente, falava contra a guerra, o patriarcado e brigava por liberdade sexual e artística. Hoje os artistas são incentivados e até cobrados a se posicionar, mas na década de 1990, isso era percebido como uma atitude corajosa — ou como simples rebeldia para seus críticos.
Percebemos a influência de Madonna em muitas estrelas pop que surgiram desde então, como Britney Spears, Christina Aguilera, Nicki Minaj, Dua Lipa, Lady Gaga, Ariana Grande, Beyoncé, Taylor Swift, Katy Perry e Rihanna. “Acho que Madonna foi uma grande inspiração para mim. Se eu tivesse que examinar sua evolução ao longo do tempo, acho que ela reinventou seu estilo de roupa e música com sucesso todas as vezes”, disse Rihanna.
A facilidade de se reinventar foi o que também inspirou Taylor Swift: “Um elemento da carreira de Madonna que realmente ocupa o centro do palco é quantas vezes ela se reinventou. É mais fácil ficar em um look, uma zona de conforto, um estilo musical. É inspirador ver alguém cuja única qualidade previsível é ser imprevisível”, disse a cantora.
Essa característica a fez andar de mãos dadas com a moda. Foi ela quem levou as parcerias entre estrelas e estilistas a outro patamar — além de sua histórica colaboração com Gaultier, que também desenhou as roupas da turnê Drowned World, de 2001, Madonna trabalhou (e trabalha ainda) com muitos designers, ajudando a impulsionar suas carreiras e criando tendências de moda.
"I’m tough, I’m ambitious, and I know exactly what I want. If that makes me a bitch, okay" — Madonna