A história por trás de... Bjork/Homogenic
O álbum que a consagrou como uma artista de grande impacto visual é uma reunião de ícones da moda e une tecnologia e tradição
Essa capa histórica do álbum Homogenic (1997), da Bjork, foi uma reunião de ícones da moda: foto de Nick Knight, roupa de Alexander McQueen e styling de Katy England, além da própria Bjork transformada em personagem futurista multicultural.
Homogenic foi o álbum que a consagrou como uma artista com grande impacto visual, algo que ela faz até hoje, sempre surpreendendo a cada foto, video ou show. A criação de imagem virou parte fundamental de sua expressão enquanto artista.
Interessante notar como ornamentos de povos ancestrais são muito usados para compor imagens e filmes com um viés futurista. Para essa imagem, o quarteto criou sua visão do que seria uma cidadã multicultural moderna, unindo tecnologia e tradição, com vestimentas e ornamentos de povos ancestrais: o quimono japonês de seda pintado à mão é acompanhado por argolas no pescoço, inspiradas nas mulheres de povoados como Ndebele (África do Sul) e Kayan (Mianmar). Já o cabelo vem de pesquisas de mulheres nativa americanas, em especial a tribo Hopi Tewa, povoado originário do Arizona (mais sobre elas abaixo).
Na época, conversas em torno de apropriação cultural não era tão comuns, mas é vale lembrar que as referências culturais foram reveladas na época em entrevistas e artigos. Mas sempre fica o aprendizado: como eles poderiam retornar pela contribuição, mesmo que involuntária, desses povos?
Mas ainda antes disso, outra foto feita por Nick Knight e McQueen despertou em Bjork o desejo de trabalhar com eles. Folheando uma edição da Visionaire editada por Rei Kawakubo, ela se deparou com outra imagem histórica da fotografia de moda: a modelo Devon Aoki, meio gueixa, meio cyborg.
Devon usava um vestido de seda bordado, tinha um olho só e sua testa foi aberta e presa com um alfinete. Mas do corte, em vez de gotas de sangue, brotavam flores rosas. É uma foto que transita entre o presente e o futuro, pessoa e cybor e o humano e a natureza como uma coisa só. Bjork então ligou para eles e disse que queria uma imagem que não apenas representasse ela, mas as ideias do seu próximo álbum.
Mulheres Hopi Tewa
Os cabelos das mulheres Tewa, povoado originário do Arizona (EUA), inspiraram muito além de Bjork. Foi também a inspiração para o cabelo da Princesa Leia no primeiro filme Star Wars.
O penteado era usado apenas pelas jovens Hopi para mostrar que eram solteiras. As mães enrolavam o cabelo em um pedaço de madeira curvo para dar uma forma arredondada e depois removia a moldura da madeira.
Há muitas fotos delas, a maioria tirada pelo fotógrafo e etnólogo americano Edward Sherriff Curtis (1868-1952), que se concentrou no oeste americano e na documentação dos modos de vida dos povos nativos. As fotos deles ilustram esse post.