Bom dia!
Na news de hoje:
Agentes da provocação
Livrarias independentes
Nick Cave, o fundo do poço e a cura
Uma Frase pra Refletir 🤯🤔
Last Song: Amour Plastique
Quando os anúncios de moda eram mais ousados que os editoriais
Se você perguntar por aí quais as campanhas mais inesquecíveis da moda, certamente muitas que Tom Ford fez para a Gucci (1994 -2004) estarão na ponta da língua de muita gente.
Os anos de Ford na Gucci estão fortemente associados à provocação. No mundo, o início da década de 1990 via surgir a Guerra do Golfo, o colapso da União Soviética e uma recessão nos Estados Unidos, impactando muitos outros países. Na moda, a loucura e o exagero dos anos 80 (go big or go home) saíam de cena para dar lugar ao minimalismo de marcas como Jil Sander e Helmut Lang e à estética heroin chic, que glamorizava e sexualizava a magreza e o visual chapado de droga.
Tom Ford foi um pouco na contramão desta estética: ele era sobre sexo e poder e usou a publicidade para atrair atenção para a Gucci em uma época liderada por logotipos “larger than life”. Juntou-se à stylist Carine Roitfeld e ao fotógrafo Mario Testino (anos mais tarde acusado de assédio sexual por muitos modelos) e juntos tornaram-se o trio da provocação.
Esta campanha aí de cima é de 2003 e mostra a modelo Carmen Kass contra uma parede com um modelo ajoelhado, puxando sua calcinha para expor os pelos pubianos raspados em forma do logotipo da Gucci. Eu me lembro muito do choque que esse anúncio causou - ele foi banido no Reino Unido e considerado “extremamente prejudicial” por órgãos de fiscalização de mídia. Os tabloides escreveram que Ford não era melhor que um “cafetão que anuncia serviços sexuais em cabines telefônicas”. E isso porque a imagem circulou apenas em algumas revistas (para "adultos modernos, sofisticados e interessados por moda"), já que não poderia estar em outdoors e jornais.
A Gucci respondeu falando que a campanha mostrava uma subversão dos papéis sexuais tradicionais: um homem de joelhos diante de uma mulher (uma novidade, naquela época).
No mundo da moda, Ford foi creditado por “trazer o sexo de volta” e todo seu trabalho imagético circulava em torno de imagens altamente sexualizadas, algumas inclusive que colocavam a mulher em lugar de submissão (muitas marcas nos anos 90 e 2000 trabalhavam com essa narrativa).
E o que era indecente naquela época, hoje é icônico, ousado e criativo. Tanto que em 2022, a Supreme refez essa imagem trocando o G de Gucci por S de Supreme.
O fato é que ele teve coragem de levar a imagem da marca ao extremo e criava campanhas publicitárias que eram mais inventivas e ousadas que os editoriais de moda - era também época dos anúncios polêmicos da Benetton, que tiravam do sério Igreja e Estado.
Provocadores fazem falta na moda, pessoas com coragem de expressar sua visão de forma integral.
4 livrarias independentes para conhecer e apoiar
Eiffel
Se você gosta de arquitetura e design, separe um tempo para conhecer e se perder pelas estantes da livraria Eiffel, especializada no assunto. Ela fica na Praça da República, convenientemente próxima a duas escolas de arquitetura e do IAB ( Instituto de Arquitetos do Brasil), além de muitos outros escritórios de arquitetura. Identidade visual criada pela Foresti Design.
Praça da República, 177
Gato Sem Rabo
A Gato Sem Rabo abriu em 2021 no centro de São Paulo, com um recorte bem específico: vende apenas publicações escritas por mulheres. Tem uma pesquisa profunda de autoras femininas, dos clássicos às novas vozes, tudo exposto em um lugar berm charmoso. O nome dalivraria vem de um compilado de palestras feitas por Virginia Wolf em 1928, publicado com o nome ‘Um Teto Todo Seu’ ou ‘Um Quarto só Seu’.
Rua Amaral Gurgel, 338, Vila Buarque
Mandarina
A Mandarina é a “minha” livraria de bairro, onde vou a pé quando preciso de algo. Pequena, acolhedora e com um ótimo atendimento. O avô de uma das sócias foi acho que o primeiro livreiro de Campinas (acho que é isso) e o espaço tem essa atmosfera de livraria raiz. Lá também tem clube do livro e bate papos.
R. Ferreira de Araújo, 373, Pinheiros
Megafauna
Aberta em novembro de 2020, a Megafauna tem a proposta de expandir a ideia de livraria para atuar também como espaço de reflexão, curadoria e criação de conteúdo. O espaço, no térreo do Copan, é amplo e muito gostoso, com o Cuia Café integrado ao espaço, com cardápio assinado pela chef Bel Coelho.
Av. Ipiranga, 200, Edifício Copan
Uma viagem ao fundo do poço e de volta à superfície
Eu tô lendo o livro Fé, Esperança e Carnificina, do Nick Cave, que é, na verdade, a transcrição de uma conversa incrível e profunda que ele teve com o jornalista e crítico irlandês Seán O'Hagan.
Nick e sua esposa Susie passavam por um período extremamente difícil, que foi a morte de seu filho Arthur, aos 15 anos (ele caiu de um penhasco). Todos os e as emoções que vieram a partir disso - da queda à ressureição - e seus impactos no processo criativo do cantor são abordados no livro e guiam o mais recente álbum de estúdio de Nick, Ghosteen.
Eu nunca vi alguém abordar o luto e sua dor extrema de maneira tão bonita. É tristemente, dolorosamente, terrivelmente bonito. Transparente e generoso.
Ele transformou o sofrimento em uma experiência artística que também reflete uma evolução em seu trabalho. Como se Arthur desse um último presente ao seu pai: um álbum maravilhoso, um disco-oração, que ele jamais teria feito não fosse por esse acontecimento. Ghosteen recebeu cinco estrelas em praticamente todas as críticas que eu li (nyt, guardian, nme, etc).
Eu li o livro ouvindo as músicas, tipo tristeza e beleza em dose dupla. Impossível não se emocionar, e alguns trechos do livro dão muito contexto às músicas. Vale a pena explorar a mente e o coração de Nick e seus relatos sobre a vida, a dor, o amor, a fé e a criatividade.
Escute Ghosteen aqui
“Love rests on two pillars: surrender and autonomy. Our need for togetherness exists alongside our need for separateness.”
“O amor descansa em dois pilares: entrega e autonomia. Nossa necessidade de união existe juntamente com nossa necessidade de separação.”
― Esther Perel
E pra encerrar 👋 💋
Et la nuit, quand tout est sombre, je te regarde danser
Amour Plastique, Videoclub
GHOSTEEN É uma beleza ! Nick Cave me lembra Leonard Cohen em sua profunda voz penetrante , uma oração, uma aclamação uma ode ao amor . Obrigada Camila querida por me mostrar!
Beijos
Adri .