Elsa Schiaparelli, além do surreal
Estilista que lutou contra o tédio na moda ganha um documentário produzido no Brasil
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Bom dia! ☀️
Na news de hoje:
Elsa Schiaparelli, além do surreal
White Lotus III
Depois do k-pop, vem o k-healing
Um filme sobre intimidade
Back to Black
Quote: Uma frase pra refletir 🤯🤔
1 música pra encerrar: A Day in the Life
Elsa Schiaparelli, muito mais do que surreal
Um novo documentário sobre a vida da estilista Elsa Schiaparelli estreia no Brasil neste fim de semana (16.11). Melhor ainda, ele foi produzido por uma dupla brasileira, para uma biblioteca pública, com a colaboração da marca em Paris e exibição em um festival gratuito e aberto ao público.
Surreal, assim como quase tudo ligado a Elsa Schiaparelli, estilista italiana (1890 - 1973) que encontrou no movimento surrealista uma plataforma para experimentar, provocar e desafiar a nossa percepção sobre como uma roupa deve se apresentar e como devemos nos vestir. Lá em 1935, ela já fazia colabs entre moda e arte, trabalhando com artistas como Salvador Dalí, Jean Cocteau e Man Ray.
"Trabalhar com esses artistas proporcionava uma sensação de euforia. Sentia-me apoiada e compreendida para além da realidade crua e entediante de simplesmente fazer um vestido para vender.”
Elsa Schiaparelli
Mas este não é o único foco do documentário O Álbum Privado de Elsa Schiaparelli (Brasil, 2024, Crux Studio – Antonia Petta e Gabriel Dietrich), que estreia durante o Festival da Biblioteca Mário de Andrade que, nesta edição, celebra os 100 anos do Manifesto Surrealista de André Breton.
Roteirizado por Antonia Petta, dirigido por Gabriel Dietrich e produzido especialmente para a ocasião, o curta-metragem é narrado pela atriz e eterna musa de YSL Marisa Berenson, neta de Schiap, e traz imagens nunca antes vistas da estilista direto do acervo particular da família Schiaparelli.
Conversei com Antonia, minha colega de longa data das modas, que foi convidada para ser curadora de moda desta edição do festival. Antonia é colaboradora de revistas como Forbes Fashion e Numéro Brasil e tem se dedicado a estudar novas narrativas de moda. “O doc é o primeiro produto da forma como eu tinha sonhado".
Como foi a produção deste documentário?
É um curta metragem feito em São Paulo, Paris e Marraquesh, baseado no livro Elsa Schiaparelli’s Private Album, que Marisa Berenson escreveu há dez anos. Ele é muito mais sobre a mulher do que sobre a estilista.
E essa edição do festival joga luz sobre as mulheres, não que elas tenham sido esquecidas na arte surrealista, mas o movimento, como tantos outros, é predominantemente masculino. E me pareceu pertinente fazer um mergulho numa mulher que, por ter uma produção artística tão relacionada ao surreal, ao escapismo e a esse universo de fantasia, pode ser interpelada como uma personalidade caricata.
O que você descobriu sobre Elsa ao longo da sua pesquisa que o público talvez ainda não saiba?
Quando examinamos o livro pra fazer o doc, não tivemos vontade de fazer um audio book ou um pdf animado porque o livro traz muitas imagens inéditas da Elsa como a gente nunca vê. Ela aparece em momentos mais particulares, de férias com a família, na praia, brincando com as crianças.
Na primeira metade do filme, a Marisa mostra uma pintura do Picasso que retrata a Elsa, mas não é uma pintura literal: ela traz um pássaro dentro de uma gaiola e Marisa interpreta essa pintura com a Elsa sendo tanto a gaiola quanto o pássaro. Porque ela, apesar de ser uma pessoa super social e presente em festas, tinha um lado mais severo, muito privado e difícil de acessar. Eu não conhecia esse lado da Elsa. Mas apesar de a gente mostrar traços mais enigmáticos da Schiap, o doc também tem histórias deliciosas e divertidas.
Como você abordou a Marisa Berenson?
Eu já a conhecia do meu ofício de jornalista, fiz algumas matérias com ela. Marisa gosta muito do Brasil. Liguei pra ela no dia do meu aniversário e ela disse sim! E desde então tem sido hiper colaborativa.
Por que você acha que temos tão poucas iniciativas consistentes de moda na cultura no Brasil?
Acho que por algumas razões. Estamos em um momento de crise onde as marcas que normalmente custeiam essas iniciativas estão mais inclinadas a garantir sua sobrevivência e faturamento.
E muitos dos eventos e projetos são patrocinados por empresas que visam lucro. Criamos formatos que estão muito atrelados ao consumo. Isso faz com que a percepção do grande público acredite na ideia de que isso precisa ser feito por uma marca, quando na verdade não precisa. E isso tudo criou uma dinâmica de que tudo esta à venda, então a responsabilidade também está em quem faz. Este filme não é da marca, ele foi feito numa biblioteca pública com uma première aberta ao público e gratuita, assim como todo o festival. Quando a gente fala de moda, ainda é muito ligada a algo excludente e que não quer ampliar a conversa para mais gente. Esse projeto é 100% sem fins lucrativos e é um grande orgulho que seja assim.
A première de “O Álbum Privado de Elsa Schiaparelli" ocorre no dia 16 de novembro de 2024, às 18h30 na Praça das Artes, como parte da programação oficial de moda da quarta edição do Festival Mário de Andrade, em São Paulo. A entrada é gratuita e aberta ao público.
White Lotus 3 vem aí 🥳🥳🥳
E desta vez a locação é na Tailândia. O perfil da série postou uma micro prévia do que vem por aí e uma das novidades é a participação da cantora Lisa (Black Pink). Entre outros atores confirmados estão Leslie Bibb, Dom Hetrakul, Michelle Monaghan e Jason Isaacs. Bem que podia estrear este ano ainda pra gente maratonar nas férias de Natal. Você não viu ainda as temporadas 1 e 2? Pode começar já.
k-healing, a nova tendência da Coreia do Sul
Depois do k-pop, agora é a hora do k-healing tomar o mundo. A Coreia do Sul é berço de mais uma nova tendência, desta vez através da literatura. Os livros que já estão conhecidos por esse novo gênero - k-healing - nasceram da cultura competitiva que predomina na Coreia do Sul.
Sete em cada dez sul-coreanos relatam problemas de saúde mental, como depressão e esgotamento. Ir a um “nap café” para tirar um cochilo durante o dia é cada vez mais comum.
Segundo o Koream Times, os coreanos sofrem de grande privação de sono, em parte porque trabalham as segundas jornadas mais longas entre os países membros da OCDE (organização internacional composta por 38 países, criada para promover políticas que visem o desenvolvimento econômico e o bem-estar social em todo o mundo), ficando atrás apenas do México.
Os personagens dos livros lutam contra o cansaço no trabalho ou procuram emprego sem sucesso, situações que os leitores conseguem se identificar. Mas às vezes também fazem um apelo ao escapismo com lugares surreais, como uma lavanderia que lava traumas ou uma loja onde se pode comprar sonhos.
A Penguin Random House está traduzindo diversos títulos para o inglês. "A área mais popular da ficção traduzida da Coreia passou a ser rotulada como 'ficção de cura', projetada para acalmar o leitor, enquanto explora questões contemporâneas relacionadas à saúde mental e às pressões da vida cotidiana, que são relacionáveis em todas as culturas", disse a editora em um comunicado.
Um filme sobre intimidade
Vi neste finde o filme sueco O Que Tiver Que Ser (Let Go, Netflix), um retrato intimista de uma família enquanto o casamento desmorona. Fala sobre intimidade, cansaço, cumplicidade e os momentos de caos que atravessam toda família. Ele é escrito, dirigido e interpretado por Josephine Bornebusch, que também dirigiu três episódios de Bebê Rena (se não viu, veja). Lindo, muito humano, desnuda as vulnerabilidades da família e enfrenta as dores cara a cara.
Quer mais sobre intimidade? O mais recente episódio dos Elefantes na Neblina é dedicado a esse tema, bem lindo também!
Amy.
Vi somente essa semana o filme Back to Black, sobre a vida de Amy Winehouse (entrou no streaming, por enquanto para alugar no Prime Video). Amy morreu de uma intoxicação por álcool em 2011, aos 27 anos.
Vou falar o que me intrigou. A narrativa foca no relacionamento tumultuado entre Amy e Blake Fielder-Civil, que inspirou o álbum "Back to Black" e está nas entrelinhas de várias músicas.
A diretora Sam Taylor-Johnson ("50 Tons de Cinza”) se propôs a fazer um recorte focado na vida romântica de Amy e Blake. Só que aquilo não foi uma “vida romântica”, foi passional e devastador, mesmo tendo sido um grande amor, mesmo tendo inspirado o melhor álbum de Amy.
Outro ponto controverso é a participação de Mitch Winehouse, pai de Amy, na produção - ele autorizou o roteiro e a escolha da atriz. Sua participação gerou críticas de fãs que questionam sua postura ao longo da carreira de Amy. Mas o filme o mostra apenas como um pai preocupado e parceiro. O mesmo acontece com Blake que, na vida real, assumiu ter introduzido drogas pesadas a Amy, mas no longa, ela “descobre” sozinha. E ainda vários outros momentos que não batem com a vida real. Mas… ainda assim, vale destacar a interpretação de Marisa Abella como Amy.
A diretora quis redimir os dois homens centrais da vida de Amy? Mostrar como ela amava o pai, como era apaixonada pelo namorado/marido, mas não como as ações deles impactaram no final que ela teve. Mega passada de pano.
“A intimidade não é algo que simplesmente acontece entre duas pessoas; é um modo de estar vivo. A cada momento, estamos escolhendo entre nos revelar ou nos proteger, nos valorizar ou nos diminuir, dizer a verdade ou nos esconder. Mergulhar na vida ou evitá-la. Intimidade é fazer a escolha de estar conectado, e não isolado, de nossa verdade mais profunda naquele momento.”
— Geneen Roth, escritora e autora de Women, Food and God
E pra encerrar 👋 💋
A Day in the Life, Milton Nascimento e Esperanza Spalding