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Na news de hoje:
Tema principal: Alta Costura tem futuro?
Noisy NY: Um doc sobre a cena musical dos anos 2000
Quote: Uma frase pra refletir 🤯🤔
Goodbye, so long, farewell: Karen O 🖤
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Qual é o Futuro da Alta Costura?
Na moda, a Alta Costura é o que existe de mais exclusivo e especial. São roupas inteiramente feitas à mão pelos artesãos mais excepcionais do mundo com os materiais mais nobres, muitos desenvolvidos especialmente para aquela coleção.
Criativamente, ela é um grande laboratório de ideias - os estilistas trabalham com um budget milionário para criar as roupas mais impactantes e únicas, o que acaba depois inspirando toda a cadeia da moda.
Se no aspecto criativo a Alta Costura conversa com públicos de diferentes ordens, o consumo é direcionado ao 0,00005% da população - em todo o mundo, há cerca de quatro mil clientes deste segmento.
Então, quem consome praticamente nunca mudou e nunca vai mudar. São rainhas, princesas, realeza em geral, high high high society, esposas de sheiks e celebridades no tapete vermelho (que na maioria das vezes, pegam os looks emprestados).
Mas o mundo hoje é muito diferente de quando ela foi estabelecida, em 1858. Temos um mundo globalizado, o avanço da tecnologia, as mudanças comportamentais, um mercado omnichannel e uma sociedade questionadora e mais consciente das discrepâncias econômicas.
Como é um universo extremamente fechado, é importante que pessoas de dentro deste círculo ousem testar novos caminhos para que ela não fique irrelevante.
A tecnologia está transformando a moda em todos os níveis, e a alta costura não é exceção. Impressão 3D, realidade aumentada e inteligência artificial estão sendo incorporadas ao processo de design e produção. Essas inovações permitem um nível de personalização e precisão sem precedentes, permitindo que os designers experimentem formas, materiais e técnicas que antes eram impossíveis. Além disso, a digitalização dos desfiles de moda e a criação de experiências virtuais estão expandindo seu alcance para além das passarelas tradicionais.
Historicamente, este segmento tem funcionado como um mundo fechado, acessível apenas a poucos privilegiados. No entanto, há uma crescente demanda por inclusividade e diversidade. Os designers estão começando a explorar novos padrões de beleza, tamanhos e culturas, refletindo a diversidade do mundo contemporâneo.
Conheça os Inovadores
Quatro desigenrs que estão provocando mudanças são: John Galliano para a Maison Margiela; a holandesa Iris Van Herpen, que junta moda, ciência, tecnologia e saberes manuais para criar suas coleções; o georgiano Demna Gvasalia, atualmente diretor criativo da Balenciaga; e o chinês Robert Wun. Ainda incluiria Daniel Roseberry para Schiaparelli e Thom Browne, mas entram na próxima.
John Galliano é o maior contador de histórias da moda contemporânea. Seus desfiles são espetáculos únicos que transformam a experiência de quem assiste.
Em janeiro, a coleção que criou para a linha Artisanal da Margiela foi encenada através de um conto fantástico inspirado pelo artista Brassaï e suas fotografias de Paris à noite na década de 1930.
Espartilhos extremos e estofamento nos quadris transformavam os corpos - o gestual dos modelos enfatizava ainda mais essas silhuetas estranhas. Os modelos andavam se contorcendo e encarando o público, contribuindo ativamente para o clima misterioso e hipnotizante do desfile. Galliano também quebra padrões de gênero em seus desfiles.
Enquanto laboratório criativo, este desfile é uma resposta ao tédio, à falta de inventividade, ao conservadorismo e ao play safe que ocupou o mercado e tem ajudado a tornar a moda em si pouco inspiradora, para não dizer obsoleta.
Em sua última apresentação, Van Herpen mostra uma série de esculturas vivas, modelos-quadros, com as roupas e os cabelos parcialmente esculpidos numa tela branca.
Estão lá as silhuetas que desafiam a gravidade, os drapeados que flutuam no ar, o trabalho extremamente manual ao lado de materiais novíssimos e técnicas de última geração.
É uma roupa que ao mesmo que é estranha e nova, é também calma, leve e etérea. É alta costura, arte ou arquitetura? É moda? Iris se dá ao luxo de não ter que escolher apenas um caminho; ela segue o caminho multidisciplinar e é isso que transforma seu trabalho em algo novo. E é esse algo novo que abre uma nova mentalidade e possibilidade para que esse segmento continue a existir acompanhando as mudanças do mundo. Não à toa, a coleção se chama Hybrid. “Mesmo que chamemos uma prática de ‘Alta Costura’ e a outra de ‘arte’, para mim, é um mesmo universo.”
Neste formato exposição - em vez de desfile - você poder apreciar as peças no seu tempo, ao contrário da experiência rápida que temos em uma passarela. "Essas roupas levaram muitos meses para ficarem prontas, então a importância de desacelerar não está presente apenas no trabalho em si, mas também na forma como as pessoas o percebem”, ela disse.
Demna tem mantido a histórica marca espanhola/francesa no top of mind das grifes de moda - e por muitas razões.
Seja pela sua amizade causação com Kim Kardashian ou pelas suas estratégias de marketing não convencionais e provocadoras, ele está sempre colocando a Alta Costura em um lugar diferente.
A última coleção de Alta Costura da Balenciaga foi uma homenagem aos códigos de vestimenta das subculturas que influenciaram o vocabulário de moda de Gvasalia. Ele escolheu quatro elementos importantes do trabalho do fundador Cristóbal Balenciaga e os aplicou à sua estética disruptiva. Demna vem da cultura de rua, das margens das cidades e, na moda, vem desafiando as convenções tradicionais e subvertendo normas estabelecidas de estilo, beleza e elegância. Nem todo mundo entende o que ele faz, nem todo mundo gosta, mas ele achou a sua maneira de fazer uma coleção dentro dos rigorosos parâmetros da Alta Costura.
Nesta apresentação mais recente, um casaco de pele falsa é feito de cabelo sintético que é moldado e tingido à mão e leva aproximadamente 2,5 meses para ser feito, um vestido gótico maxi é feito em malharia bordada com contas de vidro reciclado preto. Um dos vestidos do final foi feito de sacolas plásticas derretidas e reaproveitadas, moldadas sobre o corpo (abaixo).
Demna também trabalhou com upcycling, usando uma variedade de roupas e acessórios usados, reaproveitados e reconstruídos em novos looks. Trazer reaproveitamento de peças e materiais na Alta Costura abre novas possibilidades de criação e sa transporta por tempo presente. A Alta Costura não pode simplesmente continuar a revelia dos problemas do mundo.
E por fim, o designer de Hong Kong Robert Wun, que cria coleções explorando a moda e a arte de uma maneira mais livre e usando o trabalho manual na construção de novas histórias para a Alta Costura.
Seu desfile mais recente celebra 10 anos de marca e tem como ápice os quatro looks finais, que representam pele, carne, ossos e alma. A execução do look “carne” é impressionante: uma roupa vermelho-sangue inteiramente coberta de miçangas que foram costuradas em pé, como espinhos, e não planas como normalmente são bordadas. Li que o vestido aparentemente era tão pesado (40 quilos) que não podia nem ser pendurado.
Já o look dos ossos, traz uma vibe de fantasia e filmes de terror, gênero que Robert adora. E não deixa de ser uma imagem nova pra Alta Costura, que normalmente fala sobre sonhos e encantamento e NUNCA sobre morte ou qualquer coisa parecida.
Portanto…
O futuro da Alta Costura será definido pela sua capacidade de se adaptar e inovar, sem perder de vista os seus valores fundamentais de qualidade, exclusividade e artesanato. Ao abraçar a sustentabilidade, a tecnologia e a diversidade, a Alta Costura não apenas permanecerá relevante, mas também se manterá como uma força criativa e inspiradora na moda mundial.
O que significa na prática.
O termo Alta Costura ou Couture é frequentemente usado para indicar qualidade superior, mas sua definição é complexa. Na França, seu uso é regulamentado pela Fédération Française de la Couture, parte do Ministério da Indústria. Isso é semelhante ao processo de produção de champanhe, que requer uvas específicas de uma região francesa.
Desde o reinado de Luís XIV, a França valoriza sua indústria têxtil. O ministro das finanças naquela época reconheceu a importância econômica dos tecidos, e tornou isso uma prioridade, dizendo que "a moda é para a França o que as minas de ouro são para os espanhóis".
Ela é uma expressão cultural significativa para a França, equivalente ao Carnaval no Brasil.
Leia mais:
Meet me in the bathroom
Agora, vou sair do mundo luxuoso da couture e me transportar pros bares underground de Nova York no ínicio dos anos 2000. O doc Meet Me In The Bathroom, dirigido por Dylan Southern and Will Lovelace, é inspirado pelo livro de mesmo nome, escrito pela jornalista Lizzy Goodman, e resgata a cena de rock independente que surgiu em Nova York na virada do milênio.
Vemos essa cena nascer e se desenrolar com o 11 de setembro e a gentrificação em Nova York como panos de fundo. Yeah Yeah Yeahs, Strokes, Interpol e James Murphy contam muitos bastidores e dão contexto para diversos casos e músicas.
O título, na verdade, é de uma música dos Strokes, inspirada num suposto affair do vocalista Julian Casablancas com Courtney Love.
Aluguei pelo Prime Video por R$ 6.
“Great spirits have always encountered violent opposition from mediocre minds".
"Grandes espíritos sempre encontraram oposição violenta de mentes medíocres."
Albert Einstein
ameeeeeeei essa newsletter <3 vou ver o doc
Adorei sua coluna🩷