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O Lobo-Deus
A short story.
Leia ouvindo:
“Ela” entrou por um buraco no coração e desceu por uma escada de corda e madeira, chegando a um lugar escuro e misterioso. Apesar da escuridão, havia uma sensação estranha de acolhimento. Ela sabia que lugar era esse, mas nunca antes tinha descido até lá embaixão. Sob seus pés, musgos e folhagens em tons de verde escuro formavam um tapete que provocava uma sensação gostosa a cada passo. Olhou em volta pra ver se achava alguma pista, alguma luz que a guiasse. Mas nada. Apenas um tambor incessante reverberava no seu peito e causava uma estranha sensação. Uma mãozinha segurava a sua mão com força, mantendo-a aquecida, quase suada. A Criança estava ainda mais perdida, mas não tinha medo. Confiava em sua guia e confiava na vida. Aquela confiança que brota da inocência, quando o mundo ainda é um mistério.
O som do tambor batia grave e impunha um ritmo à caminhada. E mata adentro elas andaram até chegarem a uma caverna. Era esse o lugar que buscavam. Entraram. Que lugar escuro. Até que foram chamadas por uma luz que vinha do fundo da gruta. Chegaram mais perto e pararam de repente. Em estado de meditação, havia um lobo enorme sentado em posição de lótus e com a cabeça toda ornamentada, como se fosse um Deus hindu. Ele era um Deus. Um Lobo-Deus. Um Ganesha em forma de Lobo.
As meninas continuavam em silêncio, imóveis, numa mistura de medo e fascínio. Ela abraçou a pequena numa tentativa de protegê-la. O Lobo abre os olhos. E elas arregalam os seus. Ajoelharam-se aos seus pés, em reverência, sentindo uma energia que ainda não conheciam. O Lobo falou com o olhar. Elas entenderam. Não há nada a temer. Cheguem mais perto.
O medo desaparecia enquanto elas entravam em um estado ampliado de consciência. De repente, tudo era amor. Sentaram-se ao seu lado. Ela falou, chorou, fez muitas perguntas. E o Lobo a acolheu. Segurou suas mãos e a da criança em uma ciranda e prometeu que, a partir daquele dia, eles seriam um só.
As batidas do tambor aceleraram. Hora de voltar pra casa. A meninas agradeceram, suas testas se tocaram, irradiando luz e formando um triângulo de energia.
Pela mata fechada, retornaram até a escada, ao pé do coração. Com amor, Ela despediu-se de sua criança, agradecendo a companhia naquela viagem para dentro de si. Subiu a escada e conseguiu passar pelo buraco bem na hora que o tambor parou de tocar.
Quando abriu os olhos, se deu conta de que apenas alguns minutos haviam se passado. À sua frente, um tambor xamânico descansava, agora em silêncio.
💫
Gostei, Camila! Não imaginei que a criança e a mulher fossem a mesma pessoa. Foi uma grata surpresa. Fiquei curiosa como seria esse conto narrado em primeira pessoa pela criança...
Obrigada por escrever!
Até breve.